O coração da cultura organizacional
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Por Fernando Mantovani
Não é exagero dizer que saímos do cenário pandêmico, mas ele não saiu inteiramente de nós. O estilo de vida estabelecido durante o período de confinamento, com home office e maior dedicação às demandas pessoais, familiares e domésticas, continua sendo praticado e valorizado por muitos profissionais. Produzir, sem renunciar à qualidade de vida, ao bem-estar e à saúde mental proporcionados por modelos de trabalho flexíveis, entrou para o topo das prioridades de grande parte dos trabalhadores.
O trabalho híbrido segue sendo o preferido
Até recentemente, esse panorama agradava empregados e empregadores. De uns tempos para cá, porém, muitas empresas têm retomado ou planejam retomar o modelo integralmente presencial. Uma das principais expectativas é que essa retomada fortaleça a cultura organizacional. Há uma percepção crescente entre as companhias de que o trabalho a distância prejudica a adesão dos profissionais aos seus valores, crenças e objetivos.
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É arriscado apostar como evoluirá esse impasse entre anseios por trabalho presencial integral versus híbrido ou remoto, mas tenho um retrato do momento atual. A 24ª edição do Índice de Confiança Robert Half, apoiada em uma sondagem com 1.161 profissionais (recrutadores e profissionais qualificados empregados e desempregados), apresenta o seguinte panorama: o esquema híbrido de trabalho ainda é o preferido pela maioria, tanto na visão das empresas quanto na opinião dos profissionais.
Entre as companhias, 59% estão mesclando dias presenciais e remotos, contra 33% que exigem a presença diária no escritório e 8% que seguem totalmente em home office. A preferência pela modalidade híbrida é maior entre os profissionais: 76% a consideram o modelo ideal de trabalho. Para 18%, o preferido é o home office integral e somente 6% optam pelo modelo presencial full time.
Diante desse quadro, o principal é compreender adequadamente o conceito de cultura organizacional e colocá-lo em prática. É fato que funcionários e organizações bem sintonizados alcançam desempenho e resultados melhores. Criar, cultivar e fortalecer a cultura organizacional é um processo complexo e contínuo, que depende menos da convivência próxima entre os profissionais e mais de lideranças que inspirem e espalhem o “espírito” da empresa entre os liderados.
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Um jeito simples de definir a cultura organizacional (ou corporativa ou empresarial) é que ela envolve e expressa o jeito de pensar e agir da empresa. É como se fosse a personalidade dela, que pode ser percebida por meio de suas crenças, valores, histórias, e até pela logomarca e arquitetura do escritório.
Esse conjunto de características baliza o comportamento dos times, para o bem e para o mal. Uma atmosfera sisuda, por exemplo, onde há pouca interação e hierarquia rígida, tende a repelir talentos mais expansivos e criativos. Assim como uma companhia que respira inovação e flexibilidade tende a atrair profissionais que se identificam com esses aspectos.
O papel das lideranças
O ponto de partida para construir a cultura corporativa é uma reflexão profunda sobre a missão, a visão e os valores da companhia. Essa é a base que irá orientar as iniciativas da empresa e de cada funcionário.
Quanto mais sólida e coerente for essa base, ou seja, quanto mais ela estiver alinhada à essência da empresa, mais fácil será a assimilação da cultura corporativa. Se os valores exaltam a diversidade, mas no quadro funcional há poucas lideranças femininas, por exemplo, a contradição pode abalar a credibilidade da empresa.
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Uma vez construída, é hora de tornar e manter a cultura da empresa forte. Neste ponto, o papel das lideranças é fundamental. Elas são responsáveis pelo sucesso de medidas que revigoram a cultura corporativa, entre elas:
- comunicação – dentro e fora da empresa, suas mensagens devem circular com agilidade e primar pela clareza, transparência, respeito e alinhamento entre o discurso e a prática;
- ética – os líderes precisam ser inspiradores, dando exemplos diários e concretos de boa conduta e da seriedade dos valores e crenças da corporação;
- empatia – identificar e atender as necessidades dos funcionários dentro do possível é vital para que eles sigam comprometidos com a organização. Flexibilidade (de horário, vestuário, modelo de trabalho, etc) é um dos principais mantras do mercado no momento;
- integração – propiciar momentos de descontração e interação entre os times ajuda a fomentar a união e a cooperação, além de aliviar a carga de estresse do dia a dia.
Não tenho dúvidas de que a convivência real (e não apenas virtual) ajuda a materializar a cultura corporativa, mas esse resultado pode também ser obtido com o modelo de trabalho híbrido e as recomendações acima. O mais importante é que os valores e as crenças da empresa sejam autênticos e mantidos vivos através da participação ativa das lideranças.
*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul
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